É SCAM sim,
e a razão é muito simples.
A história
começa como qualquer outra história do mesmo género. Alguém muito credível
(neste caso ligado à PayPal) pretende criar uma versão melhorada de algo que
teve muito sucesso (como o Bitcoin).
Que problema pretende resolver? Nenhum, mas basta procurar um dos supostos problemas do Bitcoin (o fee das
transferências, a lentidão comparativamente aos sistemas centralizados, a
escalabilidade, a elevada volatilidade do preço, etc… - é só escolher um ou
dois). Isto tudo para criar um “espaço” de mercado.
E depois vem
a parte PSICOLÓGICA, e é esta que torna tudo viral.
i) Crias
FOMO (Fear Of Missing Out), através de um sistema de referrals, em que crias um
sistema “invite only” e limitas a um número fixo de subscritores (cris assim a
ilusão de escassez). As redes sociais aqui também entram em jogo, tornando o
sistema de propagação exponencial.
(Isto faz
muito lembrar as correntes de emails dos anos 2000, também não custava nada.
Bastava reencaminhar o email (ou post do Facebook) a 10 amigos e algo de bom
poderia acontecer, ou o Bill Gates iria doar uns milhões à caridade, ou o Facebook
já não iria passar a ser pago, ou ganhavas um Iphone, etc… a lógica é a mesma -
criar uma perceção de que não se tem nada a perder.)
ii) E isto
tudo a um custo “virtualmente” de zero. Basta registar com o email, o que de
pior pode acontecer?
"Quando
o produto é gratuito TU és o produto".
O teu email
é a chave para uma lista muito apetecível (e completa). Através de cruzamento
de informações (algumas retiradas no site em que a pessoa faz o registo) é
possível saber muito mais, juntando migalhas de informação espalhadas pela
Internet.
Se nós
soubéssemos a quantidade de informação que hoje existe sobre nós próprios na
Internet ficaríamos seriamente assustados.
Ou seja,
"eles" pegam em algo que nós não valorizamos (o nosso email) sob o
pretexto de gerar valor, valor esse que não existe e nem nunca existirá a não
ser para "eles" mesmos. Isto é o InitiativeQ, até pode não ser SCAM
no sentido de retirar dinheiro diretamente às pessoas, mas pode prejudicá-las
ao vender a sua informação a terceiros sem o seu consentimento.
Uma forma de
avaliar os projetos para tentar aferir se estes se tratam de versões evoluídas
de uma “corrente” tem a ver com o projeto em si, vejamos um caso prático:
Imagine-se
que estamos em novembro de 2008 e que, através da cryptography mailing list,
descobre um paper de um tipo que se dá pelo nome de Satoshi Nakamoto (criador
do Bitcoin). Não existe site (mesmo que o bitcoin.org já tivesse sido comprado
nunca seria tão apelativo como agora o InitiativeQ), não existe equipa definida
(com links do LinkedIn e um portfolio de projetos de sucesso) e não existe um
time-line ou canais específicos para a comunidade. Existe apenas um paper e um
tipo que diz que acha que consegue resolver o problema do “Double Spending”.
Isto sim era um projeto real, um projeto cheio de falhas, em construção mas com
um enorme potencial.
Isto é o que
o InitiativeQ não é.
Então
devemos impedir estas práticas?
Não. Sou
contra qualquer tipo de controlo ou regulamentação sobre isto. Tal como
aconteceu com as correntes nos anos 00’s, haverá novos projetos tipo
“InitiativeQ” e eventualmente, as pessoas deixarão de dar importância e os
projetos morrerão. Na minha opinião a única solução é gerar "awareness".
Em
conclusão, o InitiativeQ:
Não é
blockchain;
Não tem
valor (a não ser que a adesão seja massiva - que acontecerá quando esta empresa
bem entender);
Trata-se de
uma forma evoluída de email farming (ou chain email multi-level marketing)
É apenas
mais um esquema de pirâmide. Os melhores esquemas de pirâmides (com fees
encapotados) são aqueles em que levamos a pensar que o que temos a dar é
mínimo. O efeito psicológico é forte, até porque existem formas
"legais" na nossa sociedade em que isto é aceitável. Por exemplo,
jogar no Euromilhões, nós estamos a dar algo (pouco) pela possibilidade de
poder vir a ganhar muito, mesmo que a probabilidade desse muito seja zero - o ser
humano tem dificuldade em percecionar a lei dos grandes números e psicologicamente
nunca considera zero algo que vê conscientemente acontecer aos outros.
A máxima de
- "se dermos moedas a muitas pessoas a adoção em massa irá triunfar"
- é também exagerada. Para termos adoção em massa temos de ter escassez, temos
de ter onde gastar, temos de ter comerciantes a aceitar, e até termos entidades
públicas a aprovar. Ora este projeto não traz nada disso em adicional. É só
mais um!
Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Initiative_Q
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